quinta-feira, 14 de julho de 2011

A mídia, a juventude e a liberdade de expressão

Ilustração de Dirceu Garcia
 Vamos refletir juntos. Que tipo de influência pode ter sobre nossos jovens o repertório musical que vem se destacando em nossos dias? Músicas fazem apologia ao sexo, às drogas, aos relacionamentos em compromisso, à autossuficiência e à intolerância.

À mídia compete, além de informar, denunciar e entreter, formar ética e culturalmente o povo. Porém, o que encontramos na maioria dos canais é a ausência de mensagens que possam orientar e educar de forma consciente e inteligente nossas crianças e adolescentes. Os espaços que deveriam servir como canal de orientação estão longe de despertar a consciência do jovem para a sua dignidade pessoal. Quase todos os programas de entretenimento dirigidos a crianças e adolescentes contêm piadas e referências impróprias.

Cenas de sexo, embutidas em comerciais altamente criativos e inteligentes, tornaram-se verdadeiro chamariz de audiência. De acordo com o estudo realizado pela Universidade da Califórnia, jovens que assistem a programas com conteúdo erótico são duas vezes mais propensos a manter relações sexuais precoces. Com base nesse levantamento pesquisadores concluem que além de provocar a antecipação da primeira relação sexual, os programas com cenas de sexo levam os jovens a queimar etapas mais rapidamente - eles têm passado dos beijos para carinhos mais ousados e cada vez mais cedo à relação sexual.

Segundo a psicóloga americana Rebecca Collins, uma das responsáveis pelo levantamento dessas informações, o que acontece na sociedade é reflexo do aprendizado por imitação – se todo mundo faz sexo, então eu preciso fazer o mesmo. Curiosamente programas que abordam o assunto parecem ter sobre os adolescentes o mesmo efeito que aqueles que exibem cenas eróticas.

Mas, não é necessário ter um olhar científico para constatar esse fenômeno. Basta observar o comportamento cada vez mais precoce de meninas e  meninos. Eles imitam aquilo que é enfatizado nos programas de tevê, nos anúncios publicitários, nas músicas, na moda e, quando confrontados, utilizam argumentos do tipo “o que é que tem?”, “todo mundo faz”, “não tem nada a ver”. Aliás, considero esses argumentos os mais destruidores da humanidade. Para muitos jovens, o que é que tem uma menina de 12 anos engravidar, todo mundo beija na boca de todo mundo, não tem nada a ver esse papo de virgindade. Sempre sugiro aos jovens que em caso de dúvida, seja qual for a situação, ao surgir uma dessas três questões é melhor parar e pensar melhor sobre o assunto.

Uma amiga, professora do ensino fundamental, comentou que na escola em que ela trabalha uma garota de apenas nove anos, reconhecida por seu bom comportamento e compromisso com os estudos, de uma hora para outra passou a apresentar atitudes estranhas – queixava-se de fortes dores no estômago. Por três vezes consecutivas, foi necessário chamar os pais para buscá-la. Sua face denunciava que aquilo estava longe de ser uma representação infantil, apesar da rápida melhora longe da escola. A situação intrigante levou a uma investigação sobre a vida da criança nos últimos dias. Aparentemente tudo normal, nenhuma mudança na rotina dela, mas as dores continuavam.

Aquele comportamento despertou a atenção da minha amiga que, oportunamente, chamou a pequena garota para conversar. Preparada para identificar dores físicas com origem emocional, ela procurou cercar todas as possibilidades que poderiam ter levado a criança àquela reação. Somente após algum tempo, a  intuição materna fez com que ela perguntasse à garota se alguém havia tocado em seu corpo. A resposta veio em forma de choro, um choro compulsivo que denunciava uma mistura de medo, alívio e sentimento de culpa.

Ela contou que naquela semana, quando estava passando num dos corredores da escola, um colega de classe, ao som da música “a dança do créu”, agarrou-a por trás - aquilo tinha sido terrível e ela não desejava passar novamente pela situação. Tinha medo que seus pais ou qualquer outra pessoa soubesse o que havia acontecido e achassem que ela tinha gostado ou permitido. Ao fazer essa “revelação” e ser confortada pela educadora, os pais dela e também do garotinho foram chamados e o fato esclarecido.  Mas, imagine se a situação passa despercebida? Qual o trauma que essa garotinha poderia levar para a sua vida adulta? Ah! Detalhe, o garotinho que fez isso também tem nove anos de idade.

Receio chegarmos ao ponto de constrangimentos desse nível tornar-se fato isolado. Fiquei chocada quando vi um vídeo (entre tantos outros) que corre livremente na internet. Adolescentes com idade entre 13 e 15 anos de uma escola particular promovem uma festinha na sala de aula e, durante esse “evento escolar”, as únicas evidências de que não se trata de um filme erótico eram o ambiente da sala e o uniforme (camiseta e calça jeans). Meninas aparecem se esfregando nos meninos, fazendo caras e boca, simulando um ato sexual.

É importante que os pais saibam o que o filho vê na televisão, com quem ele anda, quais são os anseios do seu coração. Proibir nem sempre é a melhor saída. Para o adolescente, tudo o que é proibido tem mais sabor. O mais indicado é participar da vida dele, mostrar a diferença entre o que é saudável e o que é perversão e convencê-lo por modelo a não embarcar em canoa furada – tarefa nada fácil, mas extremamente possível e importante. A grande questão está em ensinar por modelo. Os próprios pais estão perdidos. Não sabem se vão ou se ficam e muitas vezes seguem o princípio do “faça o que eu falo e não o que eu faço”. Isso nunca dá certo.

A vida moderna impõe muitos desafios e talvez o maior deles seja encontrar tempo para estar com os filhos. Não há regra fixa para isso, muito menos soluções mágicas. Cada um deve, com um pouco de criatividade e persistência encontrar tempo. E mais que estar juntos, cuidar de que sejam momentos verdadeiramente alegres, permeados daquela alegria que inunda o ambiente quando se dispõe a esquecer de si próprio para fazer a vida mais agradável aos outros - o velho e bom diálogo é o recurso mais eficaz para o bom e saudável relacionamento entre gerações.

A realidade tem revelado a existência do desconhecimento mútuo - os pais não sabem o que seus filhos fazem, pensam ou sentem, os filhos fazem pouco caso dos pais. Vivem juntos, mas não se conhecem. É notável a falta de critério e de autoridade dos pais, elementos imprescindíveis para educar. A maior dificuldade nessa relação é a desorientação mútua. Os adolescentes estão vivendo uma etapa difícil, com muitas mudanças. Os pais também têm dificuldades porque muitos ainda não encontraram o caminho a ser trilhado e, por isso, acabam perdendo o controle da situação.

Trecho do livro "A juventude nunca fica órfã", de Vanusa Santos.
Contato com a autora: vsantos_36@hotmail.com

Contato com ilustrador: dirceuilovejusus@hotmail.com

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